Apenas 844 das 50 mil vagas previstas nas
frentes de trabalho do governo Mário Covas (PSDB) foram preenchidas
no primeiro mês do lançamento do programa, completado ontem.
As metas para julho devem ficar aquém das cerca de 30 mil
vagas esperadas. O anúncio de Covas de dar, neste seu segundo
mandato, prioridade para a área social, tornou-se um desafio
político. Com cerca de 3 milhões de desempregados no Estado
e meio milhão inscritos nas frentes, o problema - alertam
especialistas - terá grande impacto nas próximas eleições.
Na tarde de ontem, Covas pediu o esforço
de uma "operação de guerra" pelo sucesso das frentes.
Ele conversou pela segunda vez nesta semana com o secretário
do Emprego e Relações do Trabalho, Walter Barelli, responsável
pela execução do projeto. "O governador me perguntou
o que pode ser feito para apressar a colocação de pessoal",
diz Barelli. "Ninguém nunca fez uma frente desta dimensão;
estamos queimando etapas e vamos atender a meta de ter 50
mil pessoas trabalhando em setembro."
Nos cálculos do secretário, o cronograma
não está atrasado. Mas o próprio governador, no lançamento
do projeto, falou em atingir a meta dos 50 mil empregos no
mês de julho. Barelli garante que mais 14 mil pessoas vão
ingressar nas frentes de trabalho neste mês, por causa das
convocações feitas para os serviços nas escolas estaduais.
O secretário admite que as dificuldades existem.
"É um desafio político e administrativo
deste governo mostrar que tem competência para atuar na questão
do desemprego, moeda que definirá os vitoriosos nas próximas
eleições", afirma o economista Márcio Pochmann, do Instituto
de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp). "O
campo social será o termômetro das campanhas de 2000 e de
2002", reforça o cientista político Gaudêncio Torquato,
presidente da Associação Brasileira dos Consultores Políticos.
"Com o programa, Covas faz um bom investimento para aplainar
a trilha da eleição presidencial."
Pochmann foi consultado por Covas sobre
a idéia das frentes e defendeu a intervenção do Estado. "Os
governantes olham o desemprego como se fosse problema individual,
mas o trabalho de Covas está modificando isso", destaca
ele. "Se as frentes derem certo, estará colocada para
o PSDB a alternativa eleitoral de Covas." Para Pochmann,
ficará clara a distinção em relação ao governo federal: "Fernando
Henrique Cardoso é conhecido como o governante do desemprego
e Covas vai ser conhecido como quem combateu o problema."
Mas o sucesso das frentes de trabalho não
está garantido. As metas previstas na lei publicada no dia
8 de junho anunciam as 50 mil vagas. O Programa Emergencial
de Auxílio-Desemprego prevê trabalho por seis meses para o
desempregado, ajuda com cesta básica e auxílio de R$ 150,00,
além de vale transporte. Os trabalhadores farão um curso de
qualificação profissional. Dos 50 mil que serão convocados,
70% são mulheres. O projeto custa R$ 120 milhões.
Tucanos - "Os tucanos têm experiência
para cortar gastos, mas não têm para trabalhos na área social",
critica o deputado Vanderlei Siraque, do PT, integrante da
Comissão de Relações do Trabalho da Assembléia Legislativa.
O PT votou a favor das frentes. "Tudo foi aprovado com
rapidez", recorda. "No primeiro mandato, Covas disse
que arrumaria a casa e, no segundo, que investiria nos social,
mas 800 empregos é coisa de prefeitura pequena", denuncia
Siraque.
Na quarta-feira, 200 inscritos foram convocados
a comparecer no Zoológico de São Paulo para trabalhar. Eles
foram recebidos por funcionários da secretaria, ouviram palestra
e tiraram fotos para os crachás. O diretor do Zoológico André
Luiz Paranhos Perondini, festejou a ajuda e deu as boas-vindas.
"O Estado está com um problema na mão, que é o desemprego,
e nós precisamos de gente para trabalhar", informou.
Os convocados para o Zoológico vão trabalhar
na limpeza e conservação do parque, na cozinha dos funcionários
e na preparação dos alimentos dos animais. Aílton Carlos Gaspar,
de 34 anos, quatro filhos, quer tratar das aves. "O dinheiro
não é muito, mas vai dar para o básico", conta o pintor,
que há dois anos estava desempregado.
Luzia Aparecida Rodrigues, 37 anos, cozinheira,
recuperou, como disse, sua alegria ao ser convocada. "Sem
emprego, não somos ninguém." Ela lembra de "palestra"
do candidato Covas perto de sua casa, na eleição passada.
"Pelo menos ele mostrou a cara para ajudar os menos favorecidos",
elogia.
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