A mesa-redonda promovida pelo Diário na última
quinta-feira na sede da Acisa (Associação Comercial
e Industrial de Santo André) discutiu a crescente onda
de violência nas escolas públicas e foi o primeiro
evento do projeto Novos Caminhos Diário. A intenção
da campanha é levar ao debate as questões do
cotidiano do cidadão do Grande ABC de forma dinâmica.
O projeto Novos Caminhos Diário debaterá os
temas mais relevantes no momento em que acontecem com os personagens
envolvidos e autoridades responsáveis. A cada mês,
pelo menos um encontro será realizado para discutir
um tema importante de qualquer área para o cidadão
da região.
O encontro de quinta-feira passada resultou em algumas propostas
para tentar coibir a violência nas escolas públicas
da região. Entre as sugestões apresentadas estão
o fechamento de bares e fliperamas vizinhos a escolas e a
criação de uma ampla comissão com representantes
do Estado, dos municípios, dos professores, diretores
e polícias Civil e Militar, que se reuniria freqüentemente
para estudar ações conjuntas para a educação.
Apesar de o governador Geraldo Alckmin ter afirmado no sábado
passado que pediria à secretária de Educação,
Rose Neubauer, para participar do evento, ela não compareceu.
Em seu lugar, veio a assessora de gabinete Marileuza Moreira
Fernandes, para representá-la. O Departamento de Educação
e Cultura de São Caetano também não respondeu
ao convite feito à diretora Maria Helena Cadioli, que
não compareceu.
A integração entre as secretarias municipais
e estadual de Educação também foi apontada
como um dos principais passos para diminuir a violência
nas escolas, assim como a abertura das unidades de ensino
à participação da comunidade em suas
atividades.
Para alguns educadores, a forma como o sistema de progressão
continuada foi implementado e a readequação
dos alunos, que colocou estudantes do ensino médio
e do fundamental em unidades diferentes, influenciaram no
aumento da violência nas escolas.
"Hoje vivemos um momento em que a maioria da população
está dentro das unidades de ensino, e não podemos
simplesmente aumentar grades e muros e transformar a escola
em uma redoma. O programa da secretaria visa incluir o aluno
e mantê-lo na escola. Além disso, há projetos
para levar a comunidade para dentro das escolas para proporcionar
lazer e cultura. Ao mesmo tempo, a secretaria tem feito reuniões
com a Secretaria de Segurança Pública para discutir
formas de impedir que a violência ocorra na escola",
disse Marileuza Fernandes.
O assessor do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC,
Carlos Augusto César, Cafu, propôs a criação
de uma comissão entre representantes das secretarias
municipais e estadual para discutir os problemas em comum
sobre educação. "A secretária estadual
deveria vir mais à região para conversar com
os secretários municipais."
Os representantes ainda sugeriram a formação
de uma equipe multidisciplinar para acompanhar os problemas
que acontecem cotidianamente em cada escola, e que não
devem ser resolvidos por professores. "As escolas deveriam
completar seu quadro de funcionários com a contratação
de mais inspetores de aluno, por exemplo, mas deveria ter
um grupo de psicólogos e assistentes sociais para tratar
de assuntos específicos", afirmou o deputado estadual
Vanderlei Siraque (PT).
"O professor também precisa de auto-estima, precisamos
nos sentir bem na escola. O trabalho com o chamado 'aluno
problema' não deve ser de competência do professor,
mas sim de profissionais como psicopedagogos", disse
a coordenadora da Apeoesp (Sindicato dos Professores de Ensino
Oficial do Estado) de São Caetano, Vera Severiano.
O coronel José Roberto Crisóstomo, comandante
da Polícia Militar na região, afirmou que tanto
a PM quanto a Polícia Civil estão preocupadas
com a violência interna e externa às escolas.
"É preciso retirar bares e fliperams de perto
das escolas. Pois esses lugares levam o estudante ao consumo
de bebidas e drogas, que geram violência", disse
o comandante.
Principais propostas
- Fechamento de bares e fliperamas próximos a escolas
- Criar um fórum de debates entre autoridades de ensino
que se encontrem freqüentemente para discutir temas de
interesse geral
- Abertura do espaço físico das escolas para
a participação da comunidade em atividades educacionais
e físicas
- Rever o sistema de progressão continuada e distribuição
dos alunos nas escolas de acordo com o grau de estudo
-Criar grupo de profissionais multidisciplinar - psicólogos,
psicopedagogos e assistentes sociais - para trabalhar nas
escolas
- Estudar projetos de grupos de pesquisa sobre violência
para colocá-los em prática
- Divulgar experiências que diminuíram a violência
nos locais aplicados
- Aplicar atividades diferenciadas de acordo com a região
ou comunidade, como o hip hop
- Aproximar secretarias municipais e estadual nas discussões
sobre o programa educacional
- Comunicar o Conselho Tutelar sobre ocorrências nas
escolas e procurar mais diálogo com as polícias
Militar e Civil
'Escola não é mais território neutro'
Do Diário do Grande ABC
Salas superlotadas, falta de comunicação entre
Estado e prefeituras e ausência de estrutura para trabalhar
com os alunos violentos foram alguns dos pontos apontados
pelos presentes para justificar o aumento da violência
dentro das escolas.
"Até pouco tempo, a escola tinha sido preservada
da violência e era considerada um território
neutro. Só que o aumento da pobreza gerou a violência,
que agora chegou à escola, e isso é um problema
educacional. Em Diadema, as escolas municipais que abrimos
para a comunidade participar de atividades são menos
agredidas", disse a secretária de Educação
de Diadema, Lizete Arelaro.
A secretária de Educação de Ribeirão
Pires, Neusa Nakano, apontou a superlotação
das classes como um problema para os professores trabalharem
com os alunos. "Algumas salas de aula têm até
mais de 50 alunos."
O delegado seccional de Diadema, Reinaldo Corrêa, acredita
que os diretores de cada escola devem tratar os policiais
como parceiros no combate à violência. "Em
Diadema, o grupo que estuda as causas da violência foi
impedido de entrar em algumas escolas. Além disso,
tanto diretores quanto professores têm medo de chamar
a polícia quando acontece alguma agressão dentro
da escola. Isso atrapalha nosso trabalho e impede uma interação."
Para o conselheiro da Apeoesp de São Bernardo, Paulo
Neves, a separação dos alunos do ensino fundamental
e médio em escolas diferentes, também levou
ao aumento da violência. "A partir dessa separação
houve um crescimento acentuado da violência nas escolas,
porque juntaram estudantes de diferentes tribos em uma só
escola", afirmou.
O secretário de Educação de Mauá,
Luiz Roberto Alves, foi representado pelo assessor José
Lourenço Pechtoll, que leu uma carta com propostas
para superar a violência. A coordenadora da Aesp (Associação
de Escolas Particulares do ABC), Oswana Fernandes Fameli,
também apontou a criação de um fórum
de discussões para ajudar a resolver os problemas das
escolas. A secretária de Educação de
Santo André, Cleuza Repulho, segue a mesma linha de
raciocínio de Oswana, mas acredita que há um
exagero da imprensa na divulgação dos casos.
A coordenadora da Apeoesp de Mauá, Osória de
Oliveira, disse que houve autoritarismo da Secretaria Estadual
ao implementar as mudanças no sistema escolar. "A
secretaria não ouviu ninguém. Além disso,
hoje faltam inspetores, porteiros e vigias. A escola não
é uma ilha e a violência chegou até ela",
disse Osória.
"Uma das mudanças que deve ser repensada rapidamente
é a colocação de estudantes de 5ª
e 6ª séries à tarde. Nesse horário,
eles são alvo fácil para traficantes",
afirmou a coordenadora da Apeoesp de Diadema, Ivanci Vieira
dos Santos.
Para o secretário de Educação de São
Bernardo, Admir Ferro, quanto mais ações e oficinas
culturais chegarem aos estudantes, menos violência haverá.
O secretário de Rio Grande da Serra, Donizeti Garcia,
disse que as condições das escolas devem ser
revistas.
A representante da Secretaria Estadual, Marileuza Fernandes,
acredita que os professores não são apontados
como culpados e sugeriu que as experiências que tiveram
sucesso no combate à violência devam ser divulgadas
para servir de estímulo. Quanto à violência
nas escolas, Marileuza disse que os professores e diretores
devem comunicar o Conselho Tutelar e a polícia. "A
secretaria está aberta e se coloca à disposição
para outras discussões."
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