"A escola, em vez de local de formação,
tornou-se um campo de guerra, o que afeta também o
ensino e o professor, que se sente inseguro no local de trabalho."
Com esse resumo da situação da violência
nos estabelecimentos de ensino, a deputada Rosmary Corrêa
(PMDB), presidente da Comissão de Segurança
Pública, abriu os trabalhos da audiência pública
que discutiu o tema nesta quarta-feira, 26/9, na Assembléia
Legislativa.
A audiência, proposta pelo deputado Vanderlei Siraque
(PT), membro da comissão, contou com a participação
de pesquisadores e especialistas ligados à área.
"A escola deixou de ser uma referência para a comunidade",
lamentou Siraque. "E para a diminuição
da violência é preciso haver maior participação
da comunidade."
Para traduzir a violência escolar em números,
o Sindicato dos Especialistas em Educação do
Magistério Oficial (Udemo) realiza desde 1995 uma pesquisa
anual sobre o tema. Em 2000, das 496 escolas que responderam
o questionário enviado pela Udemo, 52% registraram
depredações, 48% apontaram tráfico de
drogas nas imediações e 24% apontaram consumo
dentro dos prédios escolares.
"Em relação ao ano anterior, 44% das escolas
reportaram aumento da violência", afirmou Roberto
Augusto Torres Lemos, presidente da Udemo. Para ele, no centro
do problema estão o consumismo, as mudanças
na família e a desestruturação do núcleo
familiar, "tudo isso contribuindo para gerar indisciplina,
que é o início da violência".
O papel da família e da comunidade também foram
abordados pelo diretor do Departamento de Investigações
sobre Narcóticos (Denarc), Marco Antônio Ribeiro
de Campos. Ele disse que para o sucesso do trabalho da Divisão
de Inteligência e Apoio, criada em 1997 - a prisão
de cerca de 1,6 mil traficantes nas imediações
das escolas - foi fundamental o apoio da sociedade. "Mas
é preciso lembrar que, de acordo com dados do Centro
Brasileiro de Informações sobre Drogas, apenas
20% dos casos de violência nas escolas têm vínculos
com o tráfico", lembrou. Ribeiro propõe
a formação de um núcleo multidisciplinar,
que incluiria universidades, Ministério Público
e secretarias de Estado, entre outros, para atendimento ao
usuário de drogas, inclusive no cumprimento de penas
alternativas.
Para o pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência
da Universidade de São Paulo, Eduardo Brito, a violência
dentro da escola é resultado da incapacidade de resolução
de conflitos. "A solução é fomentar
o diálogo dentro da escola, criando conselhos escolares
com participação ampla, que incluiria pessoas
que são potenciais mediadores de conflitos", disse.
Para isso, afirmou, devem ser realizados, nos estabelecimentos
de ensino, fóruns patrocinados pelo Estado.
Para Maria Antônia Vedovato, do Sindicato dos Supervisores
de Ensino do Estado (Apase), as mudanças devem ser
físicas - com escolas menores, abrigando no máximo
30 salas de aula e inseridas num centro de convivência
comunal - e éticas, "com a implantação
de um currículo onde o valor da vida não pode
estar ausente".
"Professores e comunidade estão sozinhos nesse
debate", lamentou a diretora da Associação
dos Profissionais de Ensino Oficial do Estado de São
Paulo (Apeoesp), Rita de Cássia Cardoso. A maioria
dos participantes da mesa de debates concordou com as críticas
da deputada Rosmary Corrêa à ausência de
representantes da Secretaria da Educação.
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