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O Estado de S. Paulo -14 de novembro de 2000

As quadrilhas das indenizações ambientais

Silvio Bressan

O relatório final, ainda em fase de conclusão, da CPI da Indústria da Indenização Ambiental da Assembléia Legislativa de São Paulo, confirma com riqueza de pormenores um escândalo que o Estado vem denunciando há pelo menos cinco anos: o Tesouro estadual vem sendo descaradamente roubado por quadrilhas especializadas em superfaturar, nos tribunais, indenizações pela desapropriação indireta de glebas destinadas à criação de parques e áreas de conservação. Como mostrou o jornalista Silvio Bressan, em reportagem publicada em nossa edição de domingo, peritos nomeados pelos juízes para fazer uma avaliação imparcial das áreas sob litígio valiam-se das informações do perito designado pelo autor da ação - isto é, pelo único interessado em aumentar o valor da indenização - para completar o seu levantamento.

O mais escandaloso é que procuradores do Estado e juízes não tenham percebido a irregularidade criminosa, que levou o Estado a condenações milionárias. Um dos peritos trabalhou em mais de 60 processos de indenização ambiental antes de ser processado por improbidade administrativa, acusado de superfaturar uma área do Parque do Jacupiranga, pela qual está sendo cobrada indenização de R$ 368 milhões, que pode chegar, com juros e correção, a perto de R$ 1 bilhão. E o espantoso, no caso, é que, segundo os promotores encarregados do caso, o Estado praticamente não tinha o que pagar, pois "parte da área estava fora do parque, outra já era do Estado e uma terceira já está sendo paga em outro processo".

Um segundo perito trabalhou em 25 processos, seja como perito, seja como assistente do autor da ação. Ele conseguiu a proeza de obter US$ 75 milhões por uma área avaliada pela Secretaria do Meio Ambiente em US$ 2,4 milhões.

Com juros e correção, a indenização chegou a US$ 667 milhões, ou R$ 1,3 bilhão, e hoje é o maior precatório do País.

O governo do Estado deve R$ 3 bilhões em precatórios ambientais. O total da conta dos 1.276 processos em julgamento, muitos dos quais fraudados, pode elevar essa conta para cerca de R$ 50 bilhões. Muitas dessas fraudes prosperaram porque o Ministério Público e a Justiça, mal aparelhados, não dispunham de recursos para averiguar a procedência das avaliações feitas pelos peritos. Mas não restam dúvidas de que parte do saque dos recursos do Estado resultou de uma cadeia de cumplicidade forjada ao longo do processo.

Não há explicação plausível, por exemplo, para o Estado ter sido condenado a pagar R$ 75 milhões ao município de Caraguatatuba pela desapropriação de uma área que o município havia, anteriormente, doado ao Estado. Esse processo, aliás, foi sugerido à prefeitura de Caraguatatuba pelo mesmo perito que "fabricou" o maior precatório do País.

Os lucros dos fraudadores aumentaram substancialmente quando alguns juízes passaram a aplicar indiscriminadamente uma espécie de indenização por lucros cessantes, os chamados juros compensatórios de 12% ao ano sobre as indenizações, não se preocupando com verificar se a área desapropriada prestava-se a algum tipo de atividade econômica - o que raramente ocorria nas áreas da mata atlântica que, não por outra razão, ficaram preservadas até hoje.

O presidente da CPI, deputado Milton Flávio, depois de ter ouvido 22 depoimentos, afirma não ter dúvida de que "o Estado foi lesado de forma criminosa. Perto disso, o caso do Lalau (o juiz Nicolau dos Santos Neto, que desviou R$ 169 milhões da obra do Foro Trabalhista) é quase uma brincadeira". Os trabalhos da CPI, no entanto, elucidaram apenas parte da trama criminosa.

Entre os depoentes, não houve um único juiz, o que constitui uma omissão, em si, escandalosa. Afinal, como afirmou o deputado Vanderlei Siraque, que propôs a convocação dos juízes que julgaram os processos sob suspeição e foi derrotado, "quem julgou, quem autorizou o pagamento não fui eu, você, o perito ou qualquer uma das partes, mas o juiz, e ele deveria ser ouvido".

 

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Fabio Taroda