Sexta-feira, 14 de dezembro
de 2001
Editorial
- O Estado de São Paulo
Segurança
manipulada
As estatísticas sobre a criminalidade
em São Paulo levam em conta apenas o número de ocorrências
pelo tipo de crime, desconsiderando o número de vítimas.
"Se três indivíduos forem vítimas de homicídio
no mesmo local, no mesmo horário, nas mesmas circunstâncias
e pelo mesmo autor (...), o registro no quadro estatístico
deve ser de apenas uma ocorrência", determinou o diretor
da Delegacia de Interior de São José dos Campos (Deinter-1),
em documento enviado aos delegados seccionais da região do
Vale do Paraíba, litoral norte e Serra da Mantiqueira, para
orientá-los sobre o procedimento a ser adotado. O ofício
foi apresentado pelo deputado estadual Vanderlei Siraque (PT) como
prova de que dados sobre a criminalidade divulgados pela Secretaria
Estadual de Segurança Pública são manipulados.
O secretário Marco Vinício Petrelluzzi
reagiu, dizendo que a prática existe há 20 anos. Exagerou.
As estatísticas criminais começaram a ser elaboradas
no Estado há 15 anos. A declaração do secretário
apenas comprova que tanto esse governo quanto as administrações
passadas usaram as estatísticas conforme suas necessidades.
As estatísticas da criminalidade são
uma peça importante no jogo político-eleitoral, especialmente
num período que antecede o pleito para governador. Afinal,
uma das maiores preocupações do eleitorado, revelada
nas pesquisas de opinião, é com a violência
nas ruas. E é por isso que, além da maquiagem estatística
que faz com que duas, três ou dez mortes sejam consideradas
como uma só ocorrência, se retarda a divulgação
dos dados. Os números da criminalidade do terceiro trimestre
deste ano, por exemplo, ainda não foram divulgados pela secretaria.
Como não se consegue reduzir a criminalidade - a ocorrência
de seqüestros aumentou 265% neste ano -, controla-se a situação
por meio das estatísticas.
Uma mostra de como o novo método estatístico
favorece o governo estadual está
no cruzamento dos dados da Secretaria da Segurança Pública
com os do Programa de Aprimoramento de Mortalidade do Município
de São Paulo (Pró-Aim), relativos a mortes violentas
ocorridas na capital. No ano passado, a Secretaria da Segurança
registrou 5.883 homicídios e o Pró-Aim, 5.972, havendo
uma diferença de 1,6% entre as duas fontes. No primeiro semestre
de 2001, a secretaria registrou 2.932 homicídios, enquanto
o órgão da Prefeitura anotou 3.380 (15,27% a mais).
As denúncias de manipulação das estatísticas
perturbaram o secretário Marco Vinício Petrelluzzi.
Primeiro, ele declarou que as críticas eram infundadas.
Em seguida, lembrou que não poderia
ser considerado culpado por uma maquiagem estatística que
já vinha sendo realizada antes do atual governo - como se
isso justificasse a prática. Somente diante do documento
assinado pelo diretor da Deinter-1 é que anunciou que, a
partir de 2002, serão divulgados tanto o número de
ocorrências quanto o de vítimas. "Somos transparentes
e isso traz conseqüências", afirmou.
Mas até agora o que houve foi uma opacidade
que ocultou da população a situação
real da criminalidade. É preciso reconhecer que os investimentos
deste governo em Segurança Pública são recordes,
mas não há como negar que a violência nas ruas
continua aumentando. É um fato que precisa ser enfrentado,
não escondido.
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