ONU mira o Brasil no combate à fome Imprimir

 

Organização quer criar condições para que famintos saiam da pobreza e mira no exemplo do Bolsa Família


O Estado de São Paulo

A Organização das Nações Unidas (ONU) quer acabar com o assistencialismo no combate à fome e promover uma mudança radical na estratégia para alimentar milhões de pessoas. A ONU ainda tem mirado em projetos brasileiros - como o Bolsa Família - como exemplo para seus futuros programas.

 

O objetivo é não apenas entregar alimentos importados às populações na África, Ásia ou América Latina, mas também criar condições para que as pessoas possam começar a produzir e incentivar a produção local. "O tempo da ajuda alimentar está acabando. Temos de desenvolver novos programas", disse Staffan De Mistura, o número 2 do Programa Mundial de Alimentação da ONU.

 

A falta de programas claros acaba criando situações paradoxais. Em um país, a produção agrícola aumentou em 300%, enquanto no mesmo período a fome aumentou em 38%, exemplifica.

 

Na semana passada, o G-8 (grupo das oito maiores economias) anunciou US$ 20 bilhões para acabar com a fome no mundo, promessa já feita em outras ocasiões e nunca cumprida. Mesmo assim, a ONU deposita todas suas fichas nessa promessa, enquanto tenta desenvolver projetos para garantir que esses recursos tenham um impacto real. A ONU tem a responsabilidade de alimentar em 2009 cerca de 103 milhões de pessoas, principalmente na África. Mas até a semana passada só tinha 25% do valor necessário para garantir que os alimentos cheguem aos mais vulneráveis. "Precisamos de US$ 5,4 bilhões."

 

A ONU quer apostar em pelo menos parte do modelo brasileiro no uso desse US$ 20 bilhões. "Estamos usando a experiência no Brasil como um exemplo", disse Mistura. Segundo ele, programas como o Bolsa Família têm "efeitos multiplicadores" e vão na linha que a ONU quer adotar. A ideia é criar redes de ajuda social para permitir que os famintos possam não apenas ter alimentos, mas uma saída da pobreza.

 

Uma das ideias é alimentar 20 milhões de crianças em escolas. Outro projeto que já está sendo viabilizado é o de garantir alimentos vinculados com a criação de trabalho.

 

Outra iniciativa já em andamento é o uso de US$ 1 bilhão para comprar alimentos nos próprios países onde há fome. Dessa forma, o mercado local fica aquecido e a produção local ganha um incentivo. Grande parte dos US$ 20 bilhões do G-8 serão usados para o desenvolvimento agrícola.

 

Até pouco tempo, grande parte dos recursos era usada para comprar alimentos produzidos por ricos fazendeiros americanos e distribuir na África. Os mais beneficiados eram os fazendeiros, que tinham venda garantida.