Chega
de brincar de pega-pega
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Artigo publicado no
jornal Diário do Grande ABC, no dia 15 de dezembro
de 2000.
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Nos últimos tempos a imprensa vem dando um
destaque especial e convocando o Poder Público e a sociedade
em geral para discutir a questão do menor de rua.
Gostaria de manifestar-me a respeito deste assunto,
pois este tema não se resume apenas ao menor abandonado,
mas sim às crianças e adolescentes que estão
à margem de nossa sociedade, ou por falta de perspectiva
para o futuro ou por problemas sociais. São grupos distintos
que devem ser trabalhados de forma diferenciada. São adolescentes
internos na Febem, meninos e meninas de rua, crianças e adolescentes
em conflito com a lei, adolescentes grávidas etc.
As crianças e adolescentes abandonados que
circulam pelas ruas de nossa região, geralmente, são
frutos de distúrbio familiares em que o desemprego, alcoolismo,
consumo de drogas ou a violência doméstica acabam por
dilacerar suas famílias. Sem uma identidade familiar estas
crianças acabam por optar pela falsa liberdade e segurança
das ruas, em que os pais de rua, marginais e traficantes, acabam
por viciar e aliciar muitas delas, obrigando-as à prática
de pequenos delitos, usando-as para assumir seus crimes. Algumas
são obrigadas a trabalhar vendendo flores, doces, pedindo
dinheiro nos semáforos, vendendo ou transportando drogas,
ou a se prostituir. A Febem, com seu modelo retrógrado, não
passa de um trágico e inaceitável depósito
de menores, onde convivem, no mesmo espaço físico,
adolescentes de alta periculosidade e desprotegidas crianças
abandonadas. Sem um mínimo de estrutura psicossocial, nem
uma política de inclusão e profissionalização,
além da violência que impera, gera-se um clima tenso
que culmina em trágicas rebeliões como as que vemos
corriqueiramente na imprensa.
Outra parte destes jovens que vêm de famílias
mais estruturadas, independentemente de sua classe social, aparentemente
está à margem de risco social. Mas a falta de perspectiva
de ascensão social, a dificuldade de conquistar o primeiro
emprego e de se profissionalizar, a falta de política cultural,
esportiva, de saúde e educação, além
da enxurrada diária consumismo, violência e sensualidade
a que todos estamos à mercê por todos os meios de comunicação
que vão desde a televisão até a Internet, acabam
por influenciar negativamente estes jovens que, para se auto-afirmar
ou conquistar espaço e respeito em seu grupo de convívio,
partem para práticas violentas e ilícitas que vão
desde consumo de álcool e drogas, podendo chegar a homicídio
qualificado.
As meninas não estão fora deste grupo
de risco. Algumas são vítimas de abusos sexuais dentro
de seus próprios lares. Outras, por falta de orientação
adequada ou simplesmente para conquistar sua liberdade perante a
situação familiar, acabam optando pela gravidez. Dados
da Secretaria da Saúde informam que 25% dos partos realizados
pelo SUS são em adolescentes entre 12 e 19 anos de idade
e, altamente preocupante, a idade média das mães adolescentes
vem caindo significativamente. Há casos de meninas de apenas
13 anos de idade engravidaram por vontade própria.
Como solucionar um problema social tão
grave?
A Febem deve ser substituída por um modelo
alternativo o mais rápido possível; deve haver a descentralização
e parcerias entre os governos estadual, municipais e iniciativa
privada; deve-se propor a instalação dos menores em
sua cidade de origem, próximos ao convívio familiar,
além da implantação de programas socioeducativos,
realizando trabalho específico com os adolescentes de alta
periculosidade. Isto tudo é fundamental para se criar mecanismos
de inclusão e recuperação social destes jovens.
Por outro lado, não podemos pensar somente
nas conseqüências destas questões. Devemos, sim,
refletir sobre as causas citadas. Devemos pensar em políticas
públicas de combate à pobreza, do primeiro emprego,
da profissionalização, políticas nas áreas
de cultura, esporte, saúde, lazer e educação.
Medida isolada geralmente é paliativa. A realização
de um fórum regional com a participação dos
conselhos tutelares, Câmara Regional, Consórcio Intermunicipal,
sindicatos, igrejas, programas já implantados nos municípios
da região, parlamentares nos âmbitos municipal, estadual
e federal das setes cidades do Grande ABC seria o primeiro grande
passo para que, com a troca de experiências, possamos alcançar
soluções viáveis e comuns para a questão
da criança e adolescente de nossa região. Os parlamentares
estaduais da região apresentaram emendas ao Orçamento
do Estado destinando verbas para ser implementados programas nesta
área, mas o mais viável continua sendo, a discussão
regional do problema.
Vanderlei Siraque
é deputado estadual pelo PT de Santo André.
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