A
energia que brota da nossa terra
Artigo
publicado no jornal Diário do Grande ABC, no dia 21 de junho
de 2001.
A cana-de-açúcar é um dos principais
produtos agrícolas do Brasil desde o século XIX, quando
a produção paulista de açúcar saltou
de 96.000 sacas para um milhão. Para se ter uma idéia,
na safra de 1999/2000 o país produziu cerca de 300 milhões
de toneladas de cana, gerando 381 milhões de sacas de 50kg
de açúcar e mais de 12 milhões de m3 de álcool
anidro e hidratado.
Porém, além dessas propriedades, a
cana ainda pode gerar energia através da chamada co-geração,
tecnologia utilizada em pequena escala nas usinas do Brasil e de
outros países produtores de cana-de-açúcar.
O bagaço da cana é utilizado para gerar toda energia
necessária para a operação das usinas. O processo
acontece através da queima do bagaço da cana, que
produz um vapor de alta pressão expandido em turbinas para
gerar a energia eletromecânica. Ao sair das turbinas, a uma
temperatura e pressão mais baixas, o vapor é enviado
para o processo de fabricação de açúcar
e álcool, fornecendo a energia térmica. Assim, esses
dois tipos de energia são gerados a partir da mesma queima
de um produto. Há também um outro processo (ainda
em desenvolvimento) no qual o bagaço é gaseificado,
podendo gerar mais energia do que no modo convencional.
Atualmente, o tipo de combustível mais utilizado
para a co-geração de energia é o gás
natural, que segundo pesquisadores da Universidade de São
Paulo (USP), tem um aproveitamento de energia útil menor
(cerca de 50%) se comparado ao da cana (em torno de 70%).
A cana-de-açúcar é um produto
nacional, dispensa importação, além de ser
uma fonte de energia renovável. Sua utilização
em larga escala para gerar energia contribuiria para o desenvolvimento
da indústria brasileira de base.
Segundo a UNICA, União da Agroindústria
Canavieira de São Paulo, se pegarmos como base a produção
de 300 milhões de toneladas de cana (safra de 1999/2000),
o potencial de energia setorial é de 12.000 megawatts (MW),
sendo que a potência de energia elétrica instalada
no Brasil é de 60.000 MW. Em curto prazo, se houvesse um
programa do governo de incentivo a esse tipo de geração
de energia, já na safra de 2002/2003, poderíamos produzir
cerca de 3000 MW de potência, o que dá para abastecer
cerca de um milhão de residências que consomem em média
200 kilowatthoras (KWH) por mês de energia.
A safra do setor sucroalcooleiro coincide com o
período de seca, no qual há escassez de geração
de energia das hidrelétricas. Outra vantagem da co-geração
pelo bagaço da cana é a de geração de
emprego. Mais de 65% da produção de açúcar
e de álcool do Brasil é proveniente do setor sucroalcooleiro
paulista, que emprega direta e indiretamente cerca de meio milhão
de pessoas.
Mas o governo parece não querer discutir
um novo modelo de produção de energia. Culpa São
Pedro pela crise energética, quer cobrar sobretaxa, aumenta
o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) do chuveiro elétrico
(medida que não economiza nenhum kilowatt - KW - de energia),
reduz impostos de lâmpadas importadas e ameaça cortar
a energia elétrica da população.
Segundo a Fundação Getúlio
Vargas, mais de 850.000 mil empregos podem deixar de ser criados
se houver corte de 20% da energia durante seis meses. E que empresa
irá investir em um país sabendo que pode ter um grande
prejuízo?
Por isso, apresentei uma emenda ao projeto de Lei de Diretrizes
Orçamentárias 2002 (LDO) solicitando incentivo ao
governo do estado de São Paulo para a co-geração
de energia através do bagaço da cana. Estou certo
de que o país tem condições de vencer a crise
por ser rico em biomassa e pelo poder de economia que a população
já mostrou. Como deputado estadual, apresento minha proposta
e conto com o apoio da sociedade para lutarmos por ela. É
preciso que o Brasil saia deste momento crítico, com certeza.
Porém, mais importante é sair desta fase sem sacrificar
os cidadãos e até fortalecendo nosso país.
Vanderlei Siraque é deputado
estadual (PT-Santo André)
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